O TikTok sempre lança trends novas, e a mais recente me pegou de um jeito que eu não esperava. A música Hometown Glory, da Adele, tem sido usada em vídeos onde, na parte em que ela canta "I like it in the city when two worlds collide"1, as pessoas postam uma foto dos pais e, no final, uma foto delas mesmas — como o resultado do encontro de dois mundos.
É bonito. Simples, mas carregado de significado. Fiquei assistindo a esses vídeos, um após o outro, até que um pensamento me atingiu em cheio: eu nunca vi uma foto dos meus pais juntos.
Nunca. Nenhuma.
Isso parece algo pequeno, um detalhe bobo. Mas quanto mais eu pensava, mais estranha essa constatação se tornava. Meus pais se separaram quando eu ainda era muito nova, com cerca de dois anos, então não tenho memórias concretas deles como um casal. Nunca vi os dois dividindo um sofá, rindo de algo juntos, preparando o jantar enquanto conversavam. Nunca vi os dois lado a lado, vivendo uma vida que, um dia, incluía ambos no mesmo espaço, na mesma história. Mas, por algum motivo, eu nunca tinha parado para pensar que, além das lembranças que não existiam, também não havia nenhuma imagem que comprovasse que um dia eles estiveram juntos. Afinal, eles foram um casal, tiveram momentos felizes, construíram uma história — e, no meio disso, eu nasci. E não havia nada? Nenhum fragmento físico que provasse que, um dia, eles dividiram mais do que meu sobrenome?
A única foto que poderia existir era do casamento deles. Minha mãe me contou que, nesse dia, eu estava no colo do meu pai, bem no meio dos dois. Mas essa foto nunca chegou até mim. Minha mãe cortou meu pai da foto. O resultado foi uma lembrança incompleta, um pedaço de uma história que nunca consegui ver por inteiro. Fico pensando em como seria essa foto se ainda existisse inteira. Como eles estavam vestidos? Como se olhavam? Como sorriam? Era um sorriso espontâneo ou daqueles que a gente dá apenas para a câmera? Eu nunca vou saber. Tudo o que tenho são as versões deles que vieram depois — separados, reconstruídos, seguindo caminhos diferentes. Nunca os vi como o "nós" que, por um breve momento, existiu.
É estranho perceber que não tenho nenhum registro visual daquilo que um dia já foi. E talvez seja melhor assim. Talvez as fotos tenham sido apagadas porque guardar memórias às vezes dói mais do que esquecê-las. Talvez essa ausência de imagens seja uma resposta silenciosa a algo que nunca deu certo.
Ainda assim, é estranho. Estranho que nunca vi, com meus próprios olhos, a fusão dos dois mundos que, um dia, colidiram para que eu pudesse existir.
“Eu gosto da cidade quando dois mundos colidem”